terça-feira, 18 de dezembro de 2012

CONTO DE NATAL

 
 
 
 
 
Onde me encontro, tenho uma vista privilegiada sobre a cidade.
 
De dia vejo os pinheiros caiados de branco, as casas empoleiradas umas nas outras num misto de cor e o branco incandescente da neve!
 
De noite vejo a iluminação própria das ruas e do interior das casas em consonância com o esplendor da iluminação de Natal, através da qual distingo bonecos de neve, renas, pais natais e toda uma panóplia de figuras associadas a esta época!
 
 
Quaisquer palavras seriam escassas para expressar a beleza que observo!
 
Mas do cimo deste monte também ouço!
 
De dia ouço o turbilhão sonoro dos transportes, os risos das crianças, as músicas de natal e o ladrar animado dos cães.
 
De noite ouço o silêncio. O silêncio de uma cidade que descansa para recomeçar de novo!
 
 
 
 
 
Mas estar-vos-ia a mentir se vos dissesse que é apenas isto que vejo e ouço do cimo deste monte!
 
Talvez esta vista não seja assim tão privilegiada, pois, no cimo deste monte vejo também a fome, a miséria, o sofrimento, a tristeza e a desilusão.
 
Vejo crianças andrajosas e subnutridas com pedaços de pão rijo que aceitam como refeição.
Vejo famílias inteiras a banquetear-se dos restos encontrados nos caixotes do lixo.
Vejo animais escanzelados, de ar sofredor, cheios de moscas à sua volta.
Vejo pessoas como EU  e como TU que lutam diariamente mal conseguindo sobreviver!
 
Mas também vejo Porches e Lamborghinis.
Vejo roupas de alta-costura.
Vejo pessoas de ar altivo e inatingível, que se queixam da qualidade do último hotel no qual pernoitaram pela módica quantia de 2.000 euros.
Vejo homens engravatados e de pasta nas mãos, que não sorriem a ninguém, provavelmente demasiado preocupados com o dinheiro que roubam diariamente a essas pessoas que os olham humildemente nos olhos e não percebem.
 
Não percebem porque é necessário que tantos sofram para que tão poucos enriqueçam!
Não percebem que mal fizeram para serem vistos como meros números inseridos em estatísticas!
 
 
 
 
Mas é NATAL!
 
E nós colocamos tudo "para trás das costas", para que não possamos ver ou sentir, para que nos possamos permitir a ser felizes por momentos.
 
Mas e, quando na Ceia de Natal, muitos não tiverem o que comer?
E quando passarmos na rua a caminho de casa e nos depararmos com pessoas enfiadas debaixo de pedaços de papelão, desejando apenas que a noite passe rápido?
E quando nos apercebermos da nossa própria realidade, resultante de situações despoletadas por algum engravatado de pasta na mão e dentes brancos que ninguém vê?
 
Nós, portugueses, somos pacatos e queremos viver a nossa vida em paz.
Mas o que temos conseguido por ficar no nosso cantinho?
 
É NATAL!!
 
E, por ser NATAL, que todos sejamos invadidos pelo amor pelos outros e por nós próprios!
 
Por ser NATAL, que nos revitalizemos, que ganhemos energia e ânimo para o futuro que nos aguarda e, principalmente, para lutar por justiça!!
 
Por ser NATAL, que aproveitemos para estar com quem amamos... fazer alguém feliz... ser feliz!!
 
Em 2013, voltarei a este monte!
 
Quero ver de novo a minha cidade e os seus habitantes!
Mas não quero ver estas discrepâncias sociais, nem estas disparidades de estado de espírito!
Quero ver a felicidade espelhada no rosto de cada um!
Quero ver os dentes brancos do homem engravatado!
Quero ver os cães abanando a cauda junto daqueles que amam!
Quero ver a magia das crianças!
 
E, principalmente...
 
Quero que TU estejas lá!
Que faças parte deste conjunto e que, no próximo NATAL estejamos todos juntos e possamos viver o espírito natalício em plenitude.
 
Este é o meu Conto de Natal.
Não é propriamente feliz!
Mas, apesar de tudo, repleto de beleza e de intensidade!
 
É o Conto real que teremos neste ano de 2012.
 
 
 
 
 
 
 



6 comentários:

  1. SÓNIA,

    Adorei a tua prosa!
    Infelizmente...REAL.

    Esperemos que em 2013, as coisas tenham que ser diferentes, pois isto assim... NÃO pode continuar, sob pena do barco NAUFRAGAR.

    Cordialmente, com o maior carinho, desejo-vos, em especial a ti, mas também aos teus, Noites Felizes a 24 e 31.

    Beijinhus Festivus no teu coração ;)**

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    1. Muito obrigado pelo apoio e sim, temos de ser nós a tomar os comandos deste barco.

      Beijos

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  2. Parabéns!!! Gostei!!! A imagem do teu blogue está excelente e colocaste algumas ferramentas que te ia propor, sendo assim está tudo nos "conformes". Se não for antes, dia 26 de janeiro lá estarei!! Beijinhos!!

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    1. Como me alertaste dediquei algum tempo a pesquisar e fui fazendo umas melhorias. Obrigado e fico muito contente por poder contar contigo no dia do lançamento.

      Beijo grande

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  3. A poesia que seria sem a realidade triste? É paradoxal, mas julgo que não seria poesia ... Somos estranhos ...parece que só o sofrimento desperta a inspiração, a criatividade, a vontade de deitar cá para fora ... porque será?

    Há muitos anos li um texto publicado num desses jornais que apoia os jovens poetas, que era mais ou menos assim: "ah, quando o poeta sofre, todas as palavras estão a mais" ...

    Será o caso da origem deste conjunto de histórias?

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